Expliquem-me a mim,
que não entendo:
Como me posso expressar
se nem a mais profunda das dores
me é permitida?
Serei assim tão ingénua?
Alma de artista incompreendida
Como posso ajudar
se não conhecer o problema?
Porquê tão grande diferença
entre cruel dor latejante
e euforia dos céus?
Expliquem-me a mim,
Que não compreendo:
Serei assim tão diferente?
Chegarei ao ponto,
de me sentir deslocada?
A coisa que mais odeio é esta vida:
atribulado romance
em que todos têm um papel
menos eu,
que improviso!
Apenas eu me exponho,
como sou verdadeiramente,
mas nem isso posso,
dou por mim a sorrir,
quando na verdade estou a chorar.
Todos se querem assemelhar
escondem a sua verdadeira vida...
A vergonha que sentem
apenas por não combinar...
Outros ainda, se querem destacar
acabando por cometer
tão grande crime que é plagiar!
Não percebo este mundo cruel:
se apenas neste palco
posso gritar
odiado teatro
onde apenas disponho de uma oportunidade.
Depois acabou.
Não tenho vida,
não tenho alma,
não tenho corpo,
não tenho ninguém.
Duvido que continue com esta vontade de gritar
sentimentos desassossegantes,
odiosos,
talvez desconhecidos,
fervilham em mim!
Gritar
Chorar
Até não me lembrar
do que estava antes a murmurar...
Pois é essa a impressão que tenho..
Como gritar
se voz não tenho?
Cruel espectador,
porque assistes?
Porque não te vais embora,
e desistes?
Mas se ficares,
prometes contar-me já
o final deste teatro,
que de cor já conheces?
Conta-me tudo,
pois se bem te lembras
estou a improvisar
e uma ajuda
vinha mesmo a calhar.
A fúria que tinha,
já não tenho,
mas fica sabendo:
que volta
como um rebanho..
Grandes injustiças a vão despoletar
E tu, que tens o guião
com o tempo perdes-te nas folhas
pois à medida
que ris e ressonas...
eu, experiência ganho
e finalmente um papel
nesse teu guião.
Um papel
que na verdade
sempre me pertenceu
sempre fui e sempre serei
mais uma artista incompreendida
O meu caminho me espera por esse guião fora...